Cavaleiros com armaduras montados em cavalos? Esse esporte ainda existe

O nome oficial do esporte que ficou conhecido durante a Idade Média é justa. Ou seja, é um esporte que acontece entre dois cavaleiros que possuem armaduras e ficam montados em cavalos. Logo, é um tipo de luta marcial que permite o uso de variadas armas, como lanças.

Mas, eles também podem se usufruir de machados e espadas. A justa era muito praticada pelos povos da época medieval e não exigia muitas habilidades dos jogadores, exceto a coragem e facilidade para manusear as armas. O primeiro torneio oficial foi em 1066.

Cavaleiros com armaduras montados em cavalos? Esse esporte ainda existe
Foto: (reprodução/internet)

A história da justa na época medieval

Ainda que tenha tido um primeiro torneio oficial no ano de 1066, esse esporte não ficou tão popular até o século XII. Sendo assim, ainda se manteve como esporte europeu até o século XVII. Foi após a introdução em outros torneios que ele ganhou mais fama. 

Isso porque a exibição permitia observar as características individuais dos cavaleiros. E, ainda que fosse um esporte muito violento e até mesmo fatal, permitia um grande prêmio em dinheiro, o que o tornava totalmente atrativo para a época medieval que estamos citando aqui. 

Tanto é que se estudarmos a história dos maiores cavaleiros da justa, poderemos ver que eles fizeram grandes fortunas a partir desses eventos. Enquanto isso, outros cavaleiros perdiam a vida na prática. Um dos infelizes foi Henrique II da França, que morreu em combate.

As armaduras

Antes de prosseguirmos é legal citar aqui uma curiosidade. Considere que entre os séculos XV e XVII, um cavaleiro que vestia toda a armadura feita de placa de aço e ficasse montado em seu cavalo poderia pesar, ao todo, mais de 400 quilos. A se considerar uma média. 

Lembrando que os itens foram sendo adicionados aos poucos, de forma progressiva, como vamos mencionar nos próximos tópicos. Até mesmo as lanças foram sendo modificadas. E houve inclusão do elmo, que é um tipo de capacete, sem falar de machados, etc. 

Uma curiosidade final é que durante toda a Idade Média, as armaduras mais completas chegaram a ser formadas dos pés as cabeça, literalmente. Só que as partes mais protegidas eram do peito, com as placas metálicas e uma cobertura de couro internamente. 

O torneio de cavaleiros

A justa teve o seu torneio de cavaleiros durante o século XI, ainda que não fosse tão popular nesse século. O festival considerava países e cidades, sendo organizado por nobres e a plebe podia assistir os eventos, mas nunca participar. Isso porque era restrito aos cavaleiros. 

Ah, e os cavaleiros dessa época eram pessoas com títulos da nobreza. Já sobre a história de 1066, considere que a crônica foi encontrada em uma abadia e diz que Godfrey de Preuilly, que era um cavaleiro matou um competidor durante o torneio, fugindo das regras criadas.

Assim, mais tarde, encontraram outro relato citando que Henrique I, da Inglaterra, permitia as competições com lanças e trajes coloridos. Já em 1146, cavaleiros alemães e francos fizeram outros torneios. Essas disputas serviam como treinamento militar para os cavaleiros e lutadores.

A popularização dos torneios

Ainda que alguns papas tenham condenado na prática que incitavam violência, os torneios continuaram acontecendo e popularizando o esporte. Entre eles, o conflitos galicus, o batailles francaises, o tornoi, o melee, etc. Melee, aliás, é uma tradução para “corpo a corpo”. 

Eles aconteciam mais fortemente na Inglaterra, França e Estado Germânico. Porém, há relatos sobre eles também em Estados Italianos, Império Bizantino e Síria. Por volta de 1200, o conde de Pembroke, o Guilherme Marshal, foi considerado o maior cavaleiro da época. 

Ele venceu várias competições e derrotou vários oponentes ao mesmo tempo. E com novas condenações de papas, no fim do século XIII, foram criados códigos para organizar e normatizar os torneios, que aconteciam em grande escala. 

Os estatutos da justa

Dois dos documentos mais importantes que foram criados nessa época são Estatuto das Armas e Estatuto das Armas em Torneios. Eles tinham o foco de criar leis, punições, segurança pública, prevenção de brigas e falavam até mesmo em prisões. 

O uso de elmos tornou-se obrigatório, por exemplo, assim como as pancadas na cabeça, que eram feitas com a ponta da madeira, passaram a ser renunciadas. Com a regularização, os torneios se mantiveram fortes e populares na Idade Média. 

Mais tarde, esses eventos ganharam tanta ênfase que se tornaram carnavalescos, com muitas cores e extravagância. No entanto, mesmo com estatutos, mortes e agressões aconteciam. E, por isso, novos materiais passaram a ser usados na metalurgia bélica. 

Os tipos de lutas de justas que existiram

Conforme o tempo e todo histórico que contamos acima, saiba que as várias modalidades da justa foram se alterando. A primeira foi aquela que os cavaleiros usavam espadas e lanças. Depois, vieram os machados e porretes. Mais tarde ainda, os escudos. 

A justa mais conhecida hoje, que se fala tanto, era formada por um duelo entre dois cavaleiros com lanças em pontas de ferro ou madeira. E depois disso, ainda vieram variações, como o combate de cavaleiros medievais em pé, que acontecia em praças públicas. 

Ainda tivemos na história, a luta hastilitude, que era uma espécie de jogo de lança. O quintain surgiu mais tarde ainda e era bem menos agressivo porque tinha o foco em acertar a lança em um alvo, que não fosse um oponente. Teve também a corrida do anel. 

A teoria de Nostradamus

Você já deve ter ouvido falar do vidente Nostradamus, certo? Bom, saiba que a justa tem um pouco a ver com ele. Isso porque o Rei Henrique II, da França, morreu em 1559 após uma luta de justa. Assim, as lascas da lança quebrada furaram os olhos dele – mesmo com o elmo.

Na época, Nostradamus havia estimado a sua rainha, Catarina de Médici, que o seu marido deveria ter mais cuidado com os combates, já que aquilo poderia lhe causar a morte. Foi após isso, que ele ganhou o prestígio com as suas supostas profecias. 

Além dessa profecia, outras 3 realmente deram certo e aconteceram, sendo o nascimento do nazismo, com o Hitler; o grande incêndio de Londres, que foi em 1966; e a revolução francesa, que aconteceu em 1789.

O esporte como evento cultural

Atualmente, ainda é possível ver duelos de justa. No entanto, na maioria das vezes, isso acontece como demonstrativo cultural. Ou seja, países como Reino Unido, França, Alemanha e Polônia fazem apresentações do duelo que aconteceu há séculos passados. 

Na América do Norte também há apresentações do jousting, como é chamado lá. Inclusive, os organizadores comentam que há vários tipos de lutas de justas, sendo que a maioria hoje são apenas shows de entretenimento. Por outro lado, há quem queira criar a justa de verdade.

O americano Jeffrey Hedgecock é um deles. Ele diz que a ideia não é matar o adversário e sim pontuar conforme os golpes. E ainda cita as possiblidades de regras: competidores frente a frente a 60 metros um do outro e uma pista com barreira. 

A World Joust Tournaments

E não é que ele conseguiu. Jeffrey criou um torneio da justa na América do Norte em 2007, sendo que há eventos em San Diego, na Califórnia e em Québec. Após isso e a procura, ele até abriu uma escola especializada na técnica da justa, a Knight School, na Califórnia.

Assim, os alunos podem competir no evento, que é o maior e único do mundo até aqui. Para isso, eles aprender a cavalgar e lutar com a lança e as armaduras. Aliás, ele ainda tem uma empresa que faz a forja das armaduras históricas.

A recomendação dele, no entanto, é que todo lutador faça bons e longos treinamentos antes de começar a competir. Isso é necessário para que se conheça a cavalgada, o manuseio da arma, o uso da rédea. “É um processo progressivo”, ele avalia. 

A violência da justa moderna

Sobre a violência do esporte, os organizadores do evento garantem que ele já foi violento. Porém, nessa versão mais moderna não. Ao menos, não é se comparar com outros esportes, como as lutas de MMA ou até mesmo o hóquei e o polo, que podem ser mais perigosos. 

Por outro lado, ele diz que o lutador até pode ficar com alguns hematomas, no entanto, os riscos sempre podem ser evitados, ainda mais quando se considera o equipamento adequado, o treinamento em cavalos e as regras da competição. O torneio nunca registrou mortes. 

Assim, ele ainda diz que o foco do duelo é marcar pontos e isso acontece quando uma lança do adversário é quebrada ou quando o lutador cai do cavalo, por exemplo. 

Outras referências

Outro torneio que existe e que considera a cavalaria é o Battle of the Nations, que é na Ucrânia. Ele aconteceu todos os anos desde 2009 e conta com equipes de vários países. 

Além disso, o filme Coração de Cavaleiro (A Knight’s Tale) é um dos principais que existem para quem quer conhecer mais desses torneios. Ele é de 2001. Já Combate Medieval (Full Metal Jousting) é uma série de 2012 da History Channel.